1968 Polydor CBD/Philips (CD-2005)
1 - Judy In Disguise - Bernard, John Fred, Wessle
arranjador - Rogério Duprat
2 - Pot-Pourri* Honey - Bob Russell
* Summer Rain - J. Hendricks
arranjador - Rogério Duprat
3 - Pot-Pourri * Canção Pra Inglês Ver - Lamartine Babo
* Chiquita Bacana - Alberto Ribeiro - João de Barro (Carlos Alberto Ferreira Braga)
arranjador - Rogério Duprat
participação especia l- Os Mutantes (Diversos/Vozes)
4 – Flying - John Lennon, Paul McCartney
arranjador - Rogério Duprat
5 - The Rain, The Park And Other Things – Duboff, Kornfeld
arranjador - Rogério Duprat
participação especial - Os Mutantes (Diversos/Vozes)
6 - Pot-Pourri * Canto Chorado - Billy Blanco
* Bom Tempo - Chico Buarque
* Lapinha - Baden Powell, Paulo Cesar Pinheiro
arranjador - Rogério Duprat
7 - Chega De Saudade - Tom Jobim, Vinicius de Moraes
arranjador - Rogério Duprat
8 – Baby - Caetano Veloso
arranjador - Rogério Duprat
9 - Cinderella-Rockefella - M. Williams
arranjador - Rogério Duprat
10 - Pot-Pourri * Ele Falava Nisso Todo Dia - Gilberto Gil
* Bat Macumba- Caetano Veloso, Gilberto Gil
11. Lady Madonna (Lennon, McCartney)
12. Quem Será (Evaldo Gouveia, Jair Amorim)
Sobre o Álbum
Duprat sempre foi um integrante do movimento tropicalista que me chamou bastante a atenção por algum motivo que aparentemente desconheço. Eu mantinha certo respeito perante ele, provavelmente por não saber bulhufas sobre seu trabalho com maestro e arranjador até então. Ou talvez, fosse pelo simples fato dele ser o mais velho dentre as crias do tropicalismo. Por sinal, eu só fui descobrir que ele tinha um disco próprio, tropicalista, há uns três ou quatro meses atrás, pouco antes de pensar em fazer a resenha sobre o disco de Caetano. Até então, Duprat só era o rapaz intelectual que segurava o penico, simulando uma xícara bem chá das cinco, na capa de “Tropicália ou Panis et Circenses”. E mal passado algum tempo, já estou eu aqui, escrevendo uma pseudo-resenha sobre. Quanta pretensão, meu Deus. De qualquer forma, procurei fincar uma base teórica e histórica quase sólida, através de uma rápida pesquisa, que me ocupou por alguns dias. Vale ressaltar o quão pouco se escreve sobre certas figuras da música brasileira. E não digo só o Duprat, mas até conjuntos que eu considerava um tanto “conhecidos” (e até reverenciados) como o “Ave Sangria”. Minha mãe, por exemplo, nunca tinha escutado falar neles, mesmo que estivesse iniciando a sua vida adulta quando a banda lançou seu disco em 1974. Vai saber o que ela estava fazendo naquele ano. Espero que isso não tenha nada a ver com o fato de minha irmã ter nascido em 75. Enfim, após peneirar informações e informações me tornei pseudo-apto a falar sobre Duprat, podendo dar uma opinião crítica sem soar tão hipócrita, podendo eventualmente falar mal e me satisfazer sem grandes pesos na consciência. E vale (vale?) ainda ressaltar que estudar o passado é, invariavelmente, estudar a história a partir do ponto de vista de alguém. É perigoso e infelizmente pessoas como eu não têm opção. Não demorou muito até eu descobrir algumas coisas bem importantes (e não sei se tão interessantes).
Resumindo: Duprat possui uma formação erudita, que a partir da segunda metade da década de 60, se aproximou da música popular, criando um produto híbrido. O maestro estava cansado de compor obras que terminavam destinadas a uma pequena elite e passou a praticar a fundo todo seu conhecimento musical, o que resultou na fusão de diversos estilos, muitas vezes, em um só arranjo. É o que dizem por aí, pelo menos. Duprat foi o arranjador de diversas canções tropicalistas, de discos inteiros, inclusive assina os carros-chefes do movimento: “Domingo no Parque” e “Alegria, Alegria” de Gilberto Gil e Caetano Veloso respectivamente. Além disso, o arranjador trabalhou em muitos dos discos dos Mutantes e foi decisivo nas experimentações usadas pela banda. Ficou conhecido como o George Martin da Tropicália (só não sei se durante a própria Tropicália, já que essas definições-comparações só aparecem depois). Na década de 70 gravou com Walter Franco e Chico Buarque, mas com a perda gradativa de sua audição, se afastou do meio musical. É de uma tristeza imensa, mas a imagem de um maestro e arranjador perdendo a audição, gradativamente, também pode ser extremamente poética. Melancólica, mas poética. Na década de 90, abriu uma exceção para fazer alguns arranjos para Rita Lee e Lulu Santos. E realmente podia ter morrido sem essa (não, ele ainda não morreu; essa só foi mais uma das minhas piadas sarcásticas e sem graça). Segundo Tom Zé, que conviveu de perto com o maestro, um arranjo de Duprat era algo como escutar "Jackson do Pandeiro manejando uma orquestra de Beethoven". No mínimo sugestivo, mas um tanto exagerado. Entretanto, talvez nada disso importe e o tal do resumindo tenha se estendido por demais.
Para falar a verdade, eu tenho uma opinião engraçada sobre “A Banda Tropicalista do Duprat”. Antes de tudo, é bom deixar claro que eu não consigo desvincular essa produção fonográfica do “Yellow Submarine”, dos Beatles lançado no mesmo ano de 1968. Parece nonsense, não há como negar. A obra quase que totalmente experimentalista do quarteto de Liverpool (e chamá-los de quarteto de Liverpool é o super clichê eu sei), possui no Lado B apenas músicas instrumentais compostas e arranjadas por George Martin. Grande merda o resultado final. Mas a questão aqui é outra: George Martin arranjou diversas músicas dos Beatles e as tornou geniais, desde as mais clássicas dos yeh yeh yeh (nem tão geniais, bora combinar) até os arranjos experimentais a partir do disco “Revolver”, mas em um trabalho próprio terminou por produzir uma obra bem abaixo do esperado. Para mim, o mesmo acontece com Duprat. Afinal o maestro brasileiro é responsável pelo arranjo de diversas músicas geniais, de diversos artistas envolvidos no tropicalismo. E outros além disso. Mas no seu próprio disco não há nada de muito genial, há muito clichê para falar a verdade, ainda que tenha seus momentos de qualidade inegável. Imagino que esse disco não tenha sido recebido com bons olhos na época em que foi lançado, pelo tom (pseudo?) experimental / instrumental dele e por estar vinculado a um processo contracultural. Com certeza foi um fracasso comercial. Até na contracultura (ha-ha-ha). "A Banda Tropicalista do Duprat" é um daqueles discos bastante comentados no meio pseudo-cult-musical, mas pouco ouvido de verdade. E voltando à minha opinião engraçada, os Mutantes participam de quatro músicas e mesmo que produzam alguns bons momentos, não conseguem torná-los geniais. Duprat depois viria afirmar que não gosta muito desse disco, que o processo de formatação gráfica da capa foi cretino (ainda que eu ache essa capa muito bem composta) e que ele sofreu pressões na hora de compor o repertório. Sabe-se lá o quão isso é verdade. Simplesmente ele pode estar se ausentando da culpa. Não importa. Para mim o disco saiu próximo do que ele disse. É uma obra que grita na capa “EU SOU TROPICALISTA” e que no final nem é tanto assim. Não é um disco ruim, apenas tem um claro problema de repertório que distancia um pouco o resultado da proposta do movimento. Sem querer Duprat terminou soando meio careta, terminou sem se despir e jogar merda no ventilador.
Sobre as Músicas
1. Judy in Disguise (Bernard, John Fred, Wessle)
2. Honey (Bob Russel) / Summer Rain (J. Hendricks)
3. Canção para Inglês Ver (Lamartine Babo) / Chiquita Bacana (Alberto ribeiro, João de Barro).
4. Flying (Lennon, McCartney)
5. The Rain, The Park And Other Things (Duboff, Kornfeld)
6. Canto Chorado (Billy Blanco) / Bom Tempo (Chico Buarque) / Lapinha (Baden Powell, Paulo Cesar Pinheiro).
7. Chega de Saudade (Tom Jobim, Vinícius de Moraes).
8. Baby (Caetano Veloso)
9. Cinderella-Rockfella (M. Williams)
10. Ele Falava Nisso Todo Dia (Gilberto Gil) / Bat Macumba (Caetano Veloso, Gilberto Gil) / Frevo Rasgado (Bruno Ferreira, Gilberto Gil).
11. Lady Madonna (Lennon, McCartney).
12. Quem Será (Evaldo Gouveia, Jair Amorim).